segunda-feira, 6 de dezembro de 2010

CIDADE PERDIDA - MANUSCRITO 512

Relação historica de huma oculta,

e grande Povoação, antiguissima sem mo-
radores, que se descubrio no anno de 1753.
Em a America ............................................
nos interiores..............................................
contiguo aos...............................................
Mestre de campo........................................
e sua comitiva, havendo dez annos de que
viajava pelos certões, a vêr se descubria as
decantadas minas de Prata do gran-
de descubridor Moribeca, que por culpa
de hum Governador se não fizerão pa-
tentes, pois queria lhe uzurpar-lhe esta gloria
e o teve prezo na Bahia até morrer, e fi-
carão por descubrir: Veio esta noticia ao
Rio de Janeiro em principio do anno
de 1754.
Depois de huma longa, e inoportuna perigri-
nação, incitados da incaciavel cobiça de ouro, e
quazi perdidos em muitos annos por este
vastissimo certão, descubrimos huma cordi-
lheira de montes tão elevados, que parecia
chegavão a Região etheria, e que servirão
de throno ao vento as mesmas estrellas; o
luzimento que de Longe se admirava, prin-
cipalmente quando o Sol fazia impressão ao
Cristal de que era composta e formando hu-
ma vista tão grande e agradavel, que nin-
guem daquelles reflexos podia afastar os

olhos: entrou a chover antes de entrarmos
a registrar esta christallina maravilha e viamos sobre a

pedra escalvada correr as agoas precipitando-se dos
altos rochedos, parecendo-nos como a neve, ferida
dos raios do sol, pelas admiraveis vistas daquelle chris
............................................................uina se reduziria
........................................................das aguas e tranqui-
lidade do tempo nos resolvemos a investigar aquelle
admiravel prodigio da natureza, chegando-nos no
pé dos Montes, sem embaraço Algum de Matos, ou
Rios, que nos difficultasse o trânsito, porem, circulando
as Montanhas, não achamos pasio franco para exe-
cutar-mos a rezolução de accommeter-mos estes Al-
pes e Pyrineos Brasílicos, rezultando-nos deste des-
engano huma inexplicavel tristeza.
Abarracados nós, e com o dezignio
de retrocedermos no dia seguinte, sucedeo correr
hum negro, andando à lenha, a hum veado
branco, que vio, e descobrir por este acazo o caminho
entre duas serras, que parecião cortadas por artifi-
cio, e não pela Natureza: com o alvoroço desta novi-
dade principiamos a subir, achando muita pedra
solta, e amontoada por onde julgamos ser cal-
çada desfeita com a continuação do tempo. Gasta-
mos boas tres horas na subida, porém suave pelos
christaes que admiravamos, e no cume do Monte,
fizemos alto, do qual estendendo a vista, vimos em
hum Campo razo maiores demonstracoes para a nos-

sa admiração.
Divisamos cousa de legoa, e meia huma

Povoação grande, persuadindo-nos pelo dilatado da figu-
ra ser alguma cidade da Corte do Brazil: descemos lo-
go ao Valle com cautela..............lferia em semelhante
cazo, mandando explorar............................................
gar a qualidade, e ...................................................... se bem que repararam ...............................................
Fuminés, sendo este, hum dos signaes evidentes das
povoações.
Estivemos dois dias esperando aos ex-
ploradores para o fim que muito desejavamos, e só
ouviamos cantar gallos para ajuizar que havia alli po-
voadores, até que chegarão os nossos desenganados
de que não havia moradores,ficando todos confu-
zos: Resolveo-se depois hum índio da nossa com-
mitiva a entrar a todo risco, e com precaução, mas
tornando assombrado, afirmou não achar, nem desco-
brir rastro de pessoa Alguma: este cazo nos fez con-
fundir de sorte, que não o acreditamos pelo que via-
mos de domecilios, e assim se arranjarão todos os ex-
ploradores a ir seguindo os passos do índio.
Vierão, confirmando o referido depoimento
de não haver povo, e assim nos determinamos todos
a entrar com armas por esta povoação, em huma
madrugada, sem haver quem nos sahisse ao encon-
tro a impedir os passos, e não achamos outro cami-
nho senão o unico que tem a grande povoação, cu-
ja entrada he por tres arcos de grande altura, o
do meio he maior, e os dois dos lados são mais pe-

quenos: sobre o grande, e principal devizamos Letras,
que se não poderão copiar pela grande altura

Faz huma rua da largura dos três arcos,
com cazas de sobrados de huma, e outra parte, com
as fronteiras de pedra lavrada, e já denegrida. So-
.........................................inscripções, abertas todas
..........................................ortas são baxas defei-
...........................................nas, notando que pela
regularidade,e semetria em que estão feitas, pa-
rece huma só propriedade de cazas, sendo em
realidade muitas, e Algumas com seus terraços des-
cubertos, e sem telha, porque os tetos são de ladri-
lho requeimado huns, e de lajes outros.
Corremos com bastante pavor Algumas
cazas, e em nenhuma achamos vestígios de alfaias,
nem móveis, que pudéssemos pelo uso, e trato, co-
nhecer a qualidade dos naturaes: as cazas são
todas escuras no interior, e apenas tem huma es-
caça luz, e como são abóbodas, ressoavam os ecos dos
que falavão, e as mesmas vozes atemorizavão.
Passada, e vista a rua de bom cum-
primento, demos em huma Praça regular, e no meio
della huma collumna de pedra preta de grandeza
extraordinária, e sobre ella huma Estatua de homem
ordinário, com huma mão na ilharga esquerda, e o
braço direito estendido, mostrando com o dedo index
ao Polo do Norte: em cada canto da dita Praça es-
tá huma Agulha a immitação das que usavão
os Romanos, e mais algumas já maltratadas, e par-

tidas, como feridas de Alguns raios.

Pelo lado direito desta Praça esta hum
soberbo edifício, como casa principal de Algum se-
nhor da Terra, faz hum grande sallão na entrada
e ainda com medo não corremos todas as casas,
sendo tantas, e as retrat.......................................
zerão formar Algum...........................................
mara achamos hum...........................................
massa de extraordinária ...................................
pessoas lhe custavão a levanta lla.
Os morcegos erão tantos, que inves-
tião as caras das gentes, e fazião uma tal bulha,
que admirava: sobre o pórtico principal da rua
está huma figura de meio relevo talhada da mes-
ma pedra e despida da cintura para cima, coroa-
da de louro: reprezenta pessoa de pouca idade,
sem barba, com huma banda atraveçada, e hum
fraldelim pela cintura: debaixo do escudo da tal
figura tem alguns characteres já gastos com o tem-
po, divizão-se, porém os seguintes:
Da parte esquerda da dita Praça esta
outro edifício totalmente arruinado, e pelos vestígios
bem mostra que foi Templo, porque ainda conserva
parte de seu magnífico frontespicio, e Algumas na-
ves de pedra inteira: ocupa grande territorio, e nas
suas arruinadas paredes, se vem obras de primor
com Algumas figuras, e retratos embutidos na pedra
com cruzes de vários feitios, corvos, e outras miudezas que
carecem de largo tempo para admira llas.
Segue-se a este edificio huma gran-

de parte de Povoação toda arruinada e sepultada em
grandes, e medonhas aberturas da terra, sem que em

toda esta circunferencia se veja herva, arvore, ou plan-
ta produzida pela natureza, mas sim montões de pedra,
humas toscas outras lavradas, pelo que entendemos ha
as fronteiras de ...................verção, porque ainda entre
....................................................da de cadáveres, que
....................................................e parte desta infeliz
....................................................da, e desamparada,
...........talves por Algum terremoto.
Defronte da dita Praça corre hum
caudalozo Rio, arrebatadamente largo, e espaçoso com
Algumas margens, que o fazem muito agradavel a
vista, terá de largura onze, até doze braças, sem vol-
tas concideraveis, limpas as margens de arvoredo, e
troncos, que as inundações costumão trazer: sonda-
mos a sua Altura, e achamos nas partes mais profundas
quinze, até dezesseis braças. Daparte dalém tudo
são campos muito viçosos, e com tanta variedade de
flores, que parece entoar a Natureza, mais cuida-
doza por estas partes, fazendo produzir os mais mi-
mozos campos de Flora: admiramos tambem algu-
mas lagôas todas cheias de arrôs: do qual nos
aproveitamos e também dos innumeraveis ban-
dos de patos que se crião na fertilidade destes
campos, sem nos ser deficil cassa-llos sem chum-
bo mas sim as mãos.
Tres dias caminhamos Rio abaixo,
e topamos huma catadupa de tanto estrondo pe-
la força das agoas, e rezistencia no lugar, que

julgamos não faria maior as boccas do decan-
tado Nillo: depois deste salto espraia de sorte o Rio

que parece o grande Oceano: He todo cheio de Pe-
ninsulas, cubertas de verde relva: com Algumas ar-
vores disperças, que fazem.................hum tiro com
davel. Aqui achamos...............................................
a falta delle de noss.................................................
ta variedade de caça................................................
tros muitos animais criados sem cassadores que os
corrão, e os persigão.
Daparte do oriente desta catadu-
pa achamos varios subcavões, e medonhas covas,
fazendo-se experiência de sua profundidade
com muitas cordas; as quais por mais compri-
das que fossem, nunca podemos topar com
o seu centro. Achamos também Algumas pedras
soltas, e na superfície da terra, cravadas de pra-
ta, como tiradas das minas, deixadas no tempo
Entre estas furnas vimos huma
coberta com huma grande lage, e com as seguin-
tes figuras lavradas na mesma pedra, que insi-
nuão grande mistério ao que parece.
Sobre o Portico do Templo vimos outras da forma
seguinte dessignadas.
Afastado da Povoação, tiro de canhão, está
hum edificio, como caza de campo, de duzen-
tos e sincoenta passos de frente; pelo qual se
entra por hum grande portico, e se sobe, por hu-

ma escada de pedra de varias côres, dando-se logo
em huma grande salla, e depois desta em quin-

ze cazas pequenas todas com portas para a dita
salla, e cada huma sobre si, e com sua bica de agoa
..................................................qual agoa de ajunta
...............................................mão no pateo externo
...................................................columnatas em cir-
....................................................dra quadrados por
arteficio, suspensa com os seguintes caracteres:
Depois destas admirações entramos pelas
margens do Rio a fazer experiencia de descobrir
ouro e sem trabalho achamos boa pinta na su-
perficie da terra, prometendo-nos muita gran-
deza, assim de ouro, como de prata: admiramo-
nos ser deixada esta Povoação dos que a habita-
vão, não tendo achado a nossa exacta diligencia
por estes certões pessoa Alguma, que nos conte des-
ta deploravel maravilha de quem fosse esta po-
voação, mostrando bem nas suas ruínas a figura,
de grandeza que teria, e como seria populosa, e
oppulenta nos séculos em que floreceu po-
voada; estando hoje habitada de andorinhas,
Morcegos, Ratos e Rapozas que cebadas na mui-
ta creação de galinhas, e patos, se fazem maiores
que hum cão perdigueiro. Os Ratos tem as per-
nas tão curtas, que saltão como pulgas, e não
andão, nem correm como os de povoado.
Daqui deste lugar se apartou

hum companheiro, o qual com outros mais,
depois de nove dias de boa marcha avistarão a beira de

huma grande enseada que faz hum Rio a huma
canôa com duas pessoas brancas, e de cabellos pretos, e
soltos, vestidos a Europea, e dando hum tiro como
signal para sever.........................................................
para fugirem.
Ter........................................................ felpudos, e bravos,..................................................
ga a elles se encrespão todos, e investem
Hum nosso companheiro chama-
do João Antonio achou em as ruinas de huma
caza hum dinheiro de ouro, figura esferica, ma-
ior que as nossas moedas de seis mil e quatro-
centos: de huma parte com a imagem, ou figura
de hum moço posto de joelhos, e da outra parte
hum arco, huma coroa e huma setta, de cujo
genero não duvidarmos se ache muito na dita
povoação, ou cidade dissolada, por que se foi
subversão por Algum terremoto, não daria
tempo o repente a por em recato o preciozo, mas
he necessario hum braço muito forte, e podero-
zo para revolver aquele entulho calçado de tan-
tos annos como mostra.
Estas noticias mando a v.m., deste cer-
tão da Bahia, e dos Rios Pará-oaçu, Uná, assen-
tando não darmos parte a pessoa Alguma, por-
que julgamos se despovoarão Villas, e Arraiais; mas
eu a V.me. a dou das Minas que temos descuber-
to, lembrando do muito que lhe devo
Suposto que da nossa Companhia

sahio já hum companheiro com pretexto
differente, contudo peço-lhe a V.me. largue essas penú-

rias, e venha utilizar-se destas grandezas, usando da
industrias de peitar esse indio, para se fazer per-
dido, e conduzir a V.me. para estes thesouros, etc
...................................................Acharão nas entradas

.............................................................sobre lages.

Um comentário:

A S P U C disse...

OS PONTOS, SAO PALAVRAS ILEGIVEIS OD MANUSCRITO.