segunda-feira, 6 de dezembro de 2010

ONDE FOI PARA FAWCETT?




Manuscrito 512: O manuscrito que traz o numero 512 na Biblioteca Nacional (versão completa em PDF aqui) é descrito como "Relação histórica de uma occulta e grande povoação antiquissima sem moradores, que se descobriu no anno de1753". Ele relata uma expedição de bandeirantes pelo interior da Bahia. Segundo o texto, em forma de carta, ao chegarem a uma montanha brilhante (por possuir muitos cristais de rocha) os bandeirantes avistaram uma grande cidade.

Claro que eles foram até lá só para descobrir que a cidade estava desabitada. Havia inscrições nas paredes das casas mas numa língua que não conseguiram identificar. Também viram uma estatua na praça principal representando um homem apontando para o norte. O único objeto descrito em detalhes é uma moeda de ouro com um rapaz ajoelhado num lado e um arco, uma flecha e uma coroa na outra. Infelizmente o nome dos bandeirantes não ficou registrado, nem o paradeiro da moeda.

Desnecessário dizer que a cidade nunca foi encontrada. Como não temos muita tradição em caça ao tesouro é provável que ela continue escondida por mais algum tempo.


2. Onde foi parar o Coronel Fawcett?





Além da cidade do documento 512 existiria uma outra na área do rio Xingu. Pelo menos era o que defendia o Coronel Inglês Percy Harrison Fawcett no início do século passado. Como ele chegou a essa conclusão é difícil dizer. Afirma-se que foi por causa de uma inscrição numa pequena estatueta que ele teria recebido de presente de seu amigo H. Rider Haggard (autor de "As minas do rei Salomão"). A inscrição daria conta de uma cidade de ouro perdida (talvez o lendário Eldorado) no Mato Grosso.

Coronel Fawcett: Embora ele tenha procurado a cidade do manuscrito 512 sua obsessão era a tal cidade do Mato Grosso a qual chamava de Misteriosa Z. E foi perseguindo esse sonho que ele desapareceu em 1925 junto com seu filho Jack e o amigo Raleigh Rimmell. Depois disso mais de 100 pessoas morreram nas expedições que tentaram encontrar o rastro do explorador.

Se ele realmente encontrou Z ninguém sabe. A teoria mais aceita é que os índios Kalapalos tenham matado o explorador e talvez até comido o coitado. Existe até o famoso esqueleto encontrado por Orlando Villas Boas em 1951 e recusado como prova pela família de Fawcett.

Outros disseram que ele se enturmou com os índios, tendo inclusive um filho com uma índia. Para os "místicos" (ou malucos), Fawcett teria encontrado um portal para uma cidade intraterrena e por lá ficou. Fora um relato de um encontro com o velho Fawcett vagando por Minas Gerais (!).

CIDADE PERDIDA - MANUSCRITO 512

A Cidade Perdida do Manuscrito 512

2009-05-04 17:27

Há quase 250 anos a narração de uma viagem de bandeirantes indicava a existência de uma cidade fantástica no interior da Bahia. Muitos pesquisadores procuraram por ela e, agora, existem indícios de que ela pode ter sido encontrada.

Pablo Villarrubia Mauso

Estava caminhando por uma longa estrada de pedras arredondadas, marcada pela presença das ruínas de inúmeras casas de pedra. Algumas eram construídas com blocos ciclópicos bem cortados e com até dois metros de comprimento, que deviam pesar mais de três toneladas. À minha esquerda, vi grandes amontoados de lajes e, poucos passos à direita, abria-se um desfiladeiro que se perdia de vista. Tinha deixado para trás um complexo de ruas e ruínas de construções espalhadas sobre uma grande área montanhosa.
Emocionado e cansado após muitas horas de caminhada subindo a encosta, finalmente o resultado valeu a pena: tinha chegado à famosa ‘cidade perdida’ do Brasil, a ‘Machu Picchu brasileira’, a mesma que o célebre coronel inglês Percy Harrison Fawcett buscou com tanta tenacidade e afinco entre os anos de 1921 e 1925, data de seu trágico desaparecimento nas selvas do Mato Grosso.
Continuei descendo a montanha até encontrar um edifício com muitas janelas e com mais de 30 metros de comprimento. Estava na cidade abandonada de Igatú, município de Andaraí, em plena Chapada Diamantina, no estado da Bahia. “Esta é a cidade que aparece no manuscrito número 512, conservado na Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro, o mesmo documento que despertou o interesse de muitos estudiosos”, afirmou o explorador alemão Heinz Budweg, em São Paulo. A se acreditar nisso, Budweg conseguiu decifrar um dos maiores enigmas arqueológicos do século: o da existência de uma cidade pré-colombiana em território sul-americano oriental, onde se supunha que apenas haviam habitado indígenas ‘selvagens’, que jamais tinham construído cidades de pedra.
Muitas hipóteses controversas foram elaboradas sobre a origem dos construtores da cidade perdida, até então conhecida apenas por meio de lendas e crônicas. Para uns, poderiam ser incas, pré-incas, egípcios e até mesmo sobreviventes do continente perdido da Atlântida, como acreditava cegamente o coronel Fawcett.
Eu havia seguido as indicações de Budweg para chegar a Igatú, saindo de Salvador e percorrendo mais de 450 km até a vila que sequer aparece nos mapas. Igatú fica no alto de uma serra isolada e escarpada, próxima ao povoado de Andaraí, ‘um lugar esquecido por Deus’. A maltratada estrada que sobe a Igatú mostrava um cenário titânico, com centenas de formações rochosas trabalhadas pela erosão, construindo formas de criaturas monstruosas. Um chuvisco sublinhava ainda mais o aspecto oculto e misterioso da região.

Expedição Misteriosa
Ainda que sejam bem conhecidas a história do coronel Fawcett e sua procura incessante pela cidade perdida em Mato Grosso, a viagem solitária que realizou pela Bahia não é tão famosa. Em sua expedição, o explorador inglês chegou muito perto de Igatú, uma vez que esteve na vila de Lençóis — um importante ponto de encontro de exploradores que buscavam riquezas e onde havia um consulado francês para negociar a compra de ouro e diamantes. No entanto, naquela época, falava-se que indígenas ‘hostis’ e não-catequizados habitavam as selvas da Bahia.
Em Lençóis, percorri o antigo mercado, no qual Fawcett chegou com suas mulas em 1921 e comprou provisões para seguir viagem. Alguns investigadores acreditam que o teimoso inglês conseguiu chegar à cidade perdida e a importantes minas de prata, mas preferiu se calar e buscar outras ruínas em Mato Grosso.
Que mistérios se escondem nas pesquisas de Fawcett na Bahia? Segundo seu diário, no Rio de Janeiro ele teve acesso às páginas de um manuscrito redigido em 1753 — conhecido pelo número 512 —, que no século passado foi reproduzido por uma revista do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro (IHGB). Na antiga capital do país, conheceu o ex-cônsul inglês, coronel O’Sullian Beare, que lhe disse ter chegado a uma cidade antiga na Bahia, em 1913, com a ajuda de um guia mestiço. Lá, viu uma coluna negra no meio de uma praça, no alto da qual havia uma estátua, tal como tinha sido descrito no documento 512.
Fawcett dirigiu-se à região dos rios Contas e Pardos, onde ouviu relatos de camponeses que, ao se perderem, encontraram uma cidade de pedra com estátuas e uma confusão de ruas. Os índios aimorés e botocudos contaram a ele sobre a existência de ‘aldeias de fogo’, uma cidade com telhados de ouro semelhante às descrições do Eldorado e das Sete Cidades de Cibola.
O explorador inglês acreditava que o Brasil era o continente mais antigo do mundo, tanto geologicamente como também pelos vestígios de espécies pré-históricas. Primeiro, teria sido habitado por ‘trogloditas’ e, mais tarde, por sobreviventes do cataclismo que aniquilou a Atlântida, aos quais denominou toltecas, fundadores de grandes cidades no que hoje é o território brasileiro.
Enquanto percorria a Chapada Diamantina — cujas montanhas e desfiladeiros gigantescos são semelhantes aos do deserto do Arizona e Colorado, no EUA —, caminhando e acampando, pensei que ainda existem muitos enigmas sobre a cidade perdida. Um deles é o significado das inscrições que aparecem no documento 512. Nos anos 30, Bernardo da Silva Ramos, aficcionado por arqueologia e paleografia — e que já havia decifrado uma inscrição supostamente fenícia da Pedra da Gávea, no Rio de Janeiro —, descobriu que os sinais que aparecem reproduzidos no manuscrito faziam referência a um antigo governante grego, Pisistrates, e a um conselho de montanheses gregos no santuário de Demeter e Apolo, na Grécia. Os últimos símbolos ele interpretou como sendo planetas do sistema solar. Uma civilização astronômica no planalto baiano? Talvez. Nos anos 80, a arqueóloga Maria da Conceição Beltrão, do Museu Nacional do Rio de Janeiro, encontrou no interior da Bahia muitas pinturas rupestres com simbologia astronômica e efeitos de luz durante os equinócios e solstícios.

Vikings no Brasil
A exemplo do que ocorreu com o Alasca e a Austrália, a partir de meados do século passado, a Chapada Diamantina foi invadida por um número muito grande de pessoas à procura de riquezas minerais, especialmente ouro e diamante. A vila de Igatú, que chegou a ter 10.000 habitantes, foi um dos acampamentos desses aventureiros que abandonavam a região assim que esgotavam seus recursos naturais.
Por isso é que eu caminhava por ruas desertas, com exceção da entrada da vila, onde cerca de 300 habitantes ainda resistem em abandonar o local, ainda que vivam em condições paupérrimas. São descendentes daqueles aventureiros e de escravos africanos. Em outros tempos, ali haviam sido erguidos os palácios, templos, inscrições misteriosas, estátuas e colunas de pedra negra, sobre a chamada ‘serra resplandecente’, que fascinou a lendária expedição dos Bandeirantes em 1753.
Como me revelou Heinz Budweg, “a cidade foi construída pelos vikings em cerca do ano 1000 de nossa era. Deixaram um sistema complexo de encanamentos para esgoto que, segundo os livros de história, jamais havia existido no Brasil até o final do século passado. Também encontrei várias inscrições rúnicas na entrada de uma mina. Todo o planalto está marcado por caminhos, os peabirus usados pelos vikings e incas para se comunicarem com a América andina”. Budweg apóia e amplia as hipóteses do francês Jacques de Mahieu, dos anos 60, e do investigador brasileiro Amadeu do Amaral, por volta de 1900.
O septuagenário lingüista e explorador Luis Caldas Tibiriçá apresenta outra hipótese. “Os índios brasileiros jamais construíram casas de pedra”, disse quando entrevistado em São Paulo. “Alguns edifícios assemelham-se aos da Idade Média da Etiópia. As inscrições encontradas poderiam ser do idioma gueez, dos etíopes, os mesmos que, em suas crônicas, falavam de terras distantes que alcançaram com suas embarcações”. Tibiriçá acrescenta que os exploradores de riquezas aproveitaram as antigas construções para fazer suas casas, usando o cimento ou modificando algumas paredes, fato que se percebe na diferença existente entre as duas arquiteturas: uma, ciclópica, a outra de estilo colonial, com pedras menores.

Cidade Fantástica
A história da cidade perdida da Bahia aparentemente tem início em meados do século XVIII, com o já mencionado documento 512 que tem como título Relato histórico sobre uma grande, muito antiga e secreta cidade, sem quaisquer habitantes, descoberta no ano de 1753. O destinatário desconhecido da carta havia anotado na mesma que “esta notícia chegou ao Rio de Janeiro no início de 1754”.
O manuscrito, parcialmente devorado pelos cupins — e, por isso, ocultando o nome do autor —, começa falando de uma expedição de bandeirantes que percorria o interior do Brasil. O grupo, que havia partido de São Paulo, viajava já há 10 anos por locais desconhecidos de Minas Gerais em busca das lendárias minas de prata de Muribeca, ou Robério Dias, que Felipe II, da Espanha, tentou localizar sem êxito.
Os bandeirantes se depararam com uma cordilheira cujas montanhas eram tão altas que “pareciam que chegavam à região etérea, e que serviam de trono ao vento, às próprias estrelas”. Temperado com toques poéticos e de mistério, o relato descreve as montanhas como sendo de cristal, em cuja superfície refletiam intensamente os raios de sol, a ponto de deslumbrar os exploradores. Um raríssimo e providencial veado branco, surgido do nada, foi o guia que os conduziu por uma estrada de pedra até as ruínas da cidade perdida. Os rudes aventureiros passaram entre duas serras, através de um vale com uma selva espessa repleta de riachos. Durante a caminhada, os bandeirantes ouviam o canto de um galo e, por isso, julgavam estarem próximos de uma região povoada. Assim como outros ‘galos encantados’ que existem na América, o fenômeno foi interpretado como sendo de origem sobrenatural, uma vez que não existiam povoados na região.
De madrugada, os bandeirantes chegaram à cidade perdida, amedrontados e com as armas prontas a disparar diante de um eventual inimigo escondido. A entrada era formada por “três arcos de grande altura”, sendo que sobre o maior havia inscrições. A seguir, o cronista descreve uma rua com casas de sobrados, cujos telhados eram de cerâmica ou de lajes. “Percorremos com bastante pavor algumas casas, e em nenhuma achamos vestígios de utensílios domésticos, nem móveis... têm pouca luz e, como são abobadadas, ressoavam os ecos dos que falavam e as mesmas vozes aterrorizavam”.
No final da rua principal, os experientes, mas então temerosos exploradores, encontraram uma praça em cujo centro erguia-se uma coluna de pedra negra, encimada pela estátua de “um homem comum, com a mão no quadril esquerdo e o braço direito estendido, mostrando com o dedo indicador o Pólo Norte. Em cada canto da praça, está uma Agulha, semelhante às que usavam os romanos”. Que agulhas eram aquelas? Marcadores geográficos ou astronômicos?

Templários na América
Mais adiante, o relato fala de milhares de morcegos que moravam num ‘palácio’, no qual existe um friso sobre o pórtico com a imagem de uma pessoa jovem e sem barba, vestindo apenas uma espécie de faixa que atravessava seu peito até os quadris. A cabeça ostentava uma coroa de louros, e algumas inscrições incompreensíveis estavam abaixo de seus pés, as quais o cronista procurou copiar.
O Relato Histórico falava de outro grande edifício que foi interpretado como sendo um templo, em cujas paredes podiam ser vistas “figuras e retratos encravados na pedra com cruzes de várias formas, corvos e outras miudezas...”.
Depois desse ‘templo’, os bandeirantes encontraram um terreno apocalíptico, ferido por aberturas na terra, onde jazia sepultada parte da cidade e no qual não nascia qualquer vegetação. À distância de um ‘tiro de canhão’, os aventureiros encontraram um enorme edifício com comprimento de “250 passos de frente”, no qual se entrava por um grande pórtico e subia-se uma escada de pedra de várias cores. A escada terminava num grande salão rodeado por 15 habitações, cada uma com uma fonte e um pátio com colunas circulares.
Um dos bandeirantes, João Antonio, encontrou entre as ruínas de uma casa uma moeda de ouro que, de um lado, trazia a imagem de um jovem ajoelhado, e do outro lado um arco, uma coroa e uma seta. Investigando meus arquivos, encontrei uma foto publicada pelo já mencionado Jacques de Mahieu em seu livro Os Templários na América, na qual se vê uma moeda com características semelhantes, porém de prata. Mahieu acreditava que os templários teriam sido ‘sócios’ dos vikings na exploração de minas de prata na Bolívia e no Brasil por volta do século XIV.
Perto da praça, corria um rio largo por cujas margens aqueles homens caminharam por três dias, até chegar a uma imensa cascata cuja força das águas foram comparadas às do rio Nilo. Caíam com grande estrondo e formavam um rio tão largo que “parecia um oceano”. Entre as rochas que sobressaíam do rio, o grupo encontrou algumas pedras repletas de inscrições que “insinuam um grande mistério”. Perto dali, localizaram pedras com veios de prata. Alguns dias depois de excursionar por Igatú, explorando a Chapada Diamantina, encontrei uma gigantesca cascata, a Cachoeira da Fumaça, cuja altura supera os 300 metros e que poderia ser a mesma do enigmático documento.
Os últimos parágrafos do manuscrito informam que ele havia sido redigido nos sertões da Bahia, entre os rios Paraoaçu (Paraguaçu) e Una. Quem era o autor daquela misteriosa carta? Alguns historiadores propuseram a possibilidade de que fosse uma farsa bem elaborada. No entanto, o importante historiador Pedro Calmon, em seu livro O Segredo das Minas de Prata (Rio de Janeiro, 1950), conseguiu identificar o cronista: o capitão João da Silva Guimarães, falecido entre 1764 e 1766.
O manuscrito foi encontrado por um jovem erudito, Manoel Ferreira Lagos (1816 – 1871), funcionário do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro. Estava nas prateleiras da Biblioteca Pública da Corte do Rio de Janeiro, e foi reproduzido em 1839, no primeiro número da mencionada Revista do IHGB. Mais tarde, foi traduzido para o inglês e anexado a outra obra, The Highlands of the Brazil, do famoso explorador inglês Richard F. Burton.

Continua a Busca
Entre 1841 e 1846, o cônego Benigno José de Carvalho e Cunha (1789 – 1848), correspondente do IHGB, lançou-se numa aventura para encontrar a cidade perdida na Bahia, acreditando poder localizá-la no sul da inexplorada Serra de Sincorá. Benigno era um personagem curioso: português de Trás-dos-Montes, estudioso de línguas orientais e ex-estudante de matemática na Universidade de Coimbra. Chegou ao Brasil em 1834 e dedicou quatro anos de sua vida à busca das ruínas, com patrocínio do IHGB e do presidente da então província da Bahia.
A partir das informações de um viajante — que não se atreveu a penetrar na espessa selva que então cobria as ruínas —, Benigno ganhou coragem e organizou sua expedição. Os dados fornecidos pelo viajante coincidiam com os dos bandeirantes: próximo, havia uma grande cascata formada pelo Rio Sincorá, em cujas margens se encontravam ricas e profundas minas de ouro e prata. Os camponeses contaram a Benigno que a cidade perdida havia sido destruída por um terremoto e que nela morava um dragão que devorava os intrusos.
Tudo indica que o cônego Benigno esteve muito perto da cidade, se é que não conseguiu encontrá-la. Em uma das cartas que enviou ao IHGB, menciona um proprietário de terras e seu escravo negro que haviam estado na cidade perdida, próxima a um quilombo. No entanto, o proprietário não permitiu que o escravo acompanhasse o sacerdote, que já estava sofrendo com a malária, que também atingiu os 22 homens que formavam sua expedição. Nem mesmo as mulas escaparam às febres terríveis. A falta de recursos financeiros interrompeu a expedição do religioso.
Apesar do aparente fracasso da longa jornada de Benigno, na primeira metade do século XX outro investigador do tema, Estelita Jr., referiu-se aos rumores de que o sacerdote teria descoberto a cidade. Os superiores de Benigno teriam proibido que ele divulgasse tal descoberta, uma vez que existiam minas de prata e outras riquezas minerais nas proximidades.
Mais tarde, em 1880, Teodoro Sampaio, um erudito e explorador das terras baianas, atingiu os paredões da Serra de Sincorá, onde encontrou inúmeras pinturas rupestres e formações geológicas que lembravam uma cidade de pedra. “Não há dúvida”, ele escreveu na época, “o autor do Relato Histórico de 1753 teve diante de suas vistas esse terreno... onde se ouvem estrondos e estampidos misteriosos, o canto do galo nos locais obscuros onde jamais alguém penetrou e que mantém a tradição das célebres minas de prata de Robério Dias.” (O Rio de São Francisco e a Chapada Diamantina, Bahia, 1938).
A procura pela cidade perdida continua sendo, em pleno século XX, tema de muitas discussões. O recentemente falecido arqueólogo brasileiro Aurélio de Abreu acreditava que nos planaltos e desertos da Bahia ainda se escondem muitas outras cidades perdidas, que aguardam ser descobertas e escavadas, algumas possivelmente obras dos incas. Outros investigadores têm encontrado vestígios de tais cidades na Bahia, como os pesquisadores e escritores Renato Bandeira e Gabrielle D’Annunzio Baraldi.

CIDADE PERDIDA - MANUSCRITO 512

Relação historica de huma oculta,

e grande Povoação, antiguissima sem mo-
radores, que se descubrio no anno de 1753.
Em a America ............................................
nos interiores..............................................
contiguo aos...............................................
Mestre de campo........................................
e sua comitiva, havendo dez annos de que
viajava pelos certões, a vêr se descubria as
decantadas minas de Prata do gran-
de descubridor Moribeca, que por culpa
de hum Governador se não fizerão pa-
tentes, pois queria lhe uzurpar-lhe esta gloria
e o teve prezo na Bahia até morrer, e fi-
carão por descubrir: Veio esta noticia ao
Rio de Janeiro em principio do anno
de 1754.
Depois de huma longa, e inoportuna perigri-
nação, incitados da incaciavel cobiça de ouro, e
quazi perdidos em muitos annos por este
vastissimo certão, descubrimos huma cordi-
lheira de montes tão elevados, que parecia
chegavão a Região etheria, e que servirão
de throno ao vento as mesmas estrellas; o
luzimento que de Longe se admirava, prin-
cipalmente quando o Sol fazia impressão ao
Cristal de que era composta e formando hu-
ma vista tão grande e agradavel, que nin-
guem daquelles reflexos podia afastar os

olhos: entrou a chover antes de entrarmos
a registrar esta christallina maravilha e viamos sobre a

pedra escalvada correr as agoas precipitando-se dos
altos rochedos, parecendo-nos como a neve, ferida
dos raios do sol, pelas admiraveis vistas daquelle chris
............................................................uina se reduziria
........................................................das aguas e tranqui-
lidade do tempo nos resolvemos a investigar aquelle
admiravel prodigio da natureza, chegando-nos no
pé dos Montes, sem embaraço Algum de Matos, ou
Rios, que nos difficultasse o trânsito, porem, circulando
as Montanhas, não achamos pasio franco para exe-
cutar-mos a rezolução de accommeter-mos estes Al-
pes e Pyrineos Brasílicos, rezultando-nos deste des-
engano huma inexplicavel tristeza.
Abarracados nós, e com o dezignio
de retrocedermos no dia seguinte, sucedeo correr
hum negro, andando à lenha, a hum veado
branco, que vio, e descobrir por este acazo o caminho
entre duas serras, que parecião cortadas por artifi-
cio, e não pela Natureza: com o alvoroço desta novi-
dade principiamos a subir, achando muita pedra
solta, e amontoada por onde julgamos ser cal-
çada desfeita com a continuação do tempo. Gasta-
mos boas tres horas na subida, porém suave pelos
christaes que admiravamos, e no cume do Monte,
fizemos alto, do qual estendendo a vista, vimos em
hum Campo razo maiores demonstracoes para a nos-

sa admiração.
Divisamos cousa de legoa, e meia huma

Povoação grande, persuadindo-nos pelo dilatado da figu-
ra ser alguma cidade da Corte do Brazil: descemos lo-
go ao Valle com cautela..............lferia em semelhante
cazo, mandando explorar............................................
gar a qualidade, e ...................................................... se bem que repararam ...............................................
Fuminés, sendo este, hum dos signaes evidentes das
povoações.
Estivemos dois dias esperando aos ex-
ploradores para o fim que muito desejavamos, e só
ouviamos cantar gallos para ajuizar que havia alli po-
voadores, até que chegarão os nossos desenganados
de que não havia moradores,ficando todos confu-
zos: Resolveo-se depois hum índio da nossa com-
mitiva a entrar a todo risco, e com precaução, mas
tornando assombrado, afirmou não achar, nem desco-
brir rastro de pessoa Alguma: este cazo nos fez con-
fundir de sorte, que não o acreditamos pelo que via-
mos de domecilios, e assim se arranjarão todos os ex-
ploradores a ir seguindo os passos do índio.
Vierão, confirmando o referido depoimento
de não haver povo, e assim nos determinamos todos
a entrar com armas por esta povoação, em huma
madrugada, sem haver quem nos sahisse ao encon-
tro a impedir os passos, e não achamos outro cami-
nho senão o unico que tem a grande povoação, cu-
ja entrada he por tres arcos de grande altura, o
do meio he maior, e os dois dos lados são mais pe-

quenos: sobre o grande, e principal devizamos Letras,
que se não poderão copiar pela grande altura

Faz huma rua da largura dos três arcos,
com cazas de sobrados de huma, e outra parte, com
as fronteiras de pedra lavrada, e já denegrida. So-
.........................................inscripções, abertas todas
..........................................ortas são baxas defei-
...........................................nas, notando que pela
regularidade,e semetria em que estão feitas, pa-
rece huma só propriedade de cazas, sendo em
realidade muitas, e Algumas com seus terraços des-
cubertos, e sem telha, porque os tetos são de ladri-
lho requeimado huns, e de lajes outros.
Corremos com bastante pavor Algumas
cazas, e em nenhuma achamos vestígios de alfaias,
nem móveis, que pudéssemos pelo uso, e trato, co-
nhecer a qualidade dos naturaes: as cazas são
todas escuras no interior, e apenas tem huma es-
caça luz, e como são abóbodas, ressoavam os ecos dos
que falavão, e as mesmas vozes atemorizavão.
Passada, e vista a rua de bom cum-
primento, demos em huma Praça regular, e no meio
della huma collumna de pedra preta de grandeza
extraordinária, e sobre ella huma Estatua de homem
ordinário, com huma mão na ilharga esquerda, e o
braço direito estendido, mostrando com o dedo index
ao Polo do Norte: em cada canto da dita Praça es-
tá huma Agulha a immitação das que usavão
os Romanos, e mais algumas já maltratadas, e par-

tidas, como feridas de Alguns raios.

Pelo lado direito desta Praça esta hum
soberbo edifício, como casa principal de Algum se-
nhor da Terra, faz hum grande sallão na entrada
e ainda com medo não corremos todas as casas,
sendo tantas, e as retrat.......................................
zerão formar Algum...........................................
mara achamos hum...........................................
massa de extraordinária ...................................
pessoas lhe custavão a levanta lla.
Os morcegos erão tantos, que inves-
tião as caras das gentes, e fazião uma tal bulha,
que admirava: sobre o pórtico principal da rua
está huma figura de meio relevo talhada da mes-
ma pedra e despida da cintura para cima, coroa-
da de louro: reprezenta pessoa de pouca idade,
sem barba, com huma banda atraveçada, e hum
fraldelim pela cintura: debaixo do escudo da tal
figura tem alguns characteres já gastos com o tem-
po, divizão-se, porém os seguintes:
Da parte esquerda da dita Praça esta
outro edifício totalmente arruinado, e pelos vestígios
bem mostra que foi Templo, porque ainda conserva
parte de seu magnífico frontespicio, e Algumas na-
ves de pedra inteira: ocupa grande territorio, e nas
suas arruinadas paredes, se vem obras de primor
com Algumas figuras, e retratos embutidos na pedra
com cruzes de vários feitios, corvos, e outras miudezas que
carecem de largo tempo para admira llas.
Segue-se a este edificio huma gran-

de parte de Povoação toda arruinada e sepultada em
grandes, e medonhas aberturas da terra, sem que em

toda esta circunferencia se veja herva, arvore, ou plan-
ta produzida pela natureza, mas sim montões de pedra,
humas toscas outras lavradas, pelo que entendemos ha
as fronteiras de ...................verção, porque ainda entre
....................................................da de cadáveres, que
....................................................e parte desta infeliz
....................................................da, e desamparada,
...........talves por Algum terremoto.
Defronte da dita Praça corre hum
caudalozo Rio, arrebatadamente largo, e espaçoso com
Algumas margens, que o fazem muito agradavel a
vista, terá de largura onze, até doze braças, sem vol-
tas concideraveis, limpas as margens de arvoredo, e
troncos, que as inundações costumão trazer: sonda-
mos a sua Altura, e achamos nas partes mais profundas
quinze, até dezesseis braças. Daparte dalém tudo
são campos muito viçosos, e com tanta variedade de
flores, que parece entoar a Natureza, mais cuida-
doza por estas partes, fazendo produzir os mais mi-
mozos campos de Flora: admiramos tambem algu-
mas lagôas todas cheias de arrôs: do qual nos
aproveitamos e também dos innumeraveis ban-
dos de patos que se crião na fertilidade destes
campos, sem nos ser deficil cassa-llos sem chum-
bo mas sim as mãos.
Tres dias caminhamos Rio abaixo,
e topamos huma catadupa de tanto estrondo pe-
la força das agoas, e rezistencia no lugar, que

julgamos não faria maior as boccas do decan-
tado Nillo: depois deste salto espraia de sorte o Rio

que parece o grande Oceano: He todo cheio de Pe-
ninsulas, cubertas de verde relva: com Algumas ar-
vores disperças, que fazem.................hum tiro com
davel. Aqui achamos...............................................
a falta delle de noss.................................................
ta variedade de caça................................................
tros muitos animais criados sem cassadores que os
corrão, e os persigão.
Daparte do oriente desta catadu-
pa achamos varios subcavões, e medonhas covas,
fazendo-se experiência de sua profundidade
com muitas cordas; as quais por mais compri-
das que fossem, nunca podemos topar com
o seu centro. Achamos também Algumas pedras
soltas, e na superfície da terra, cravadas de pra-
ta, como tiradas das minas, deixadas no tempo
Entre estas furnas vimos huma
coberta com huma grande lage, e com as seguin-
tes figuras lavradas na mesma pedra, que insi-
nuão grande mistério ao que parece.
Sobre o Portico do Templo vimos outras da forma
seguinte dessignadas.
Afastado da Povoação, tiro de canhão, está
hum edificio, como caza de campo, de duzen-
tos e sincoenta passos de frente; pelo qual se
entra por hum grande portico, e se sobe, por hu-

ma escada de pedra de varias côres, dando-se logo
em huma grande salla, e depois desta em quin-

ze cazas pequenas todas com portas para a dita
salla, e cada huma sobre si, e com sua bica de agoa
..................................................qual agoa de ajunta
...............................................mão no pateo externo
...................................................columnatas em cir-
....................................................dra quadrados por
arteficio, suspensa com os seguintes caracteres:
Depois destas admirações entramos pelas
margens do Rio a fazer experiencia de descobrir
ouro e sem trabalho achamos boa pinta na su-
perficie da terra, prometendo-nos muita gran-
deza, assim de ouro, como de prata: admiramo-
nos ser deixada esta Povoação dos que a habita-
vão, não tendo achado a nossa exacta diligencia
por estes certões pessoa Alguma, que nos conte des-
ta deploravel maravilha de quem fosse esta po-
voação, mostrando bem nas suas ruínas a figura,
de grandeza que teria, e como seria populosa, e
oppulenta nos séculos em que floreceu po-
voada; estando hoje habitada de andorinhas,
Morcegos, Ratos e Rapozas que cebadas na mui-
ta creação de galinhas, e patos, se fazem maiores
que hum cão perdigueiro. Os Ratos tem as per-
nas tão curtas, que saltão como pulgas, e não
andão, nem correm como os de povoado.
Daqui deste lugar se apartou

hum companheiro, o qual com outros mais,
depois de nove dias de boa marcha avistarão a beira de

huma grande enseada que faz hum Rio a huma
canôa com duas pessoas brancas, e de cabellos pretos, e
soltos, vestidos a Europea, e dando hum tiro como
signal para sever.........................................................
para fugirem.
Ter........................................................ felpudos, e bravos,..................................................
ga a elles se encrespão todos, e investem
Hum nosso companheiro chama-
do João Antonio achou em as ruinas de huma
caza hum dinheiro de ouro, figura esferica, ma-
ior que as nossas moedas de seis mil e quatro-
centos: de huma parte com a imagem, ou figura
de hum moço posto de joelhos, e da outra parte
hum arco, huma coroa e huma setta, de cujo
genero não duvidarmos se ache muito na dita
povoação, ou cidade dissolada, por que se foi
subversão por Algum terremoto, não daria
tempo o repente a por em recato o preciozo, mas
he necessario hum braço muito forte, e podero-
zo para revolver aquele entulho calçado de tan-
tos annos como mostra.
Estas noticias mando a v.m., deste cer-
tão da Bahia, e dos Rios Pará-oaçu, Uná, assen-
tando não darmos parte a pessoa Alguma, por-
que julgamos se despovoarão Villas, e Arraiais; mas
eu a V.me. a dou das Minas que temos descuber-
to, lembrando do muito que lhe devo
Suposto que da nossa Companhia

sahio já hum companheiro com pretexto
differente, contudo peço-lhe a V.me. largue essas penú-

rias, e venha utilizar-se destas grandezas, usando da
industrias de peitar esse indio, para se fazer per-
dido, e conduzir a V.me. para estes thesouros, etc
...................................................Acharão nas entradas

.............................................................sobre lages.