VIDA NOVA
- E agora que tudo há mudado para ti, que irá fazer? Voltará para a cidade? – lhe
perguntou Vinka.
O velho pensou, imaginou várias possibilidades e logo disse:
- Mmm, a cidade... o primeiro terri transformado dos tempos modernos, mmm... e
como detesto a notoriedade... Em troca aqui vivo tranqüilo, levo meses sem ver
ninguém, e aqui eles me vêem muito feliz.
Sabíamos que na realidade se aborrecia e se deprimia, mas não dissemos nada.
- E não tem visto passar sequer uma patrulha de terris?
- Não, desde que terminou a guerra entre zumbos e wacos já não passa ninguém
por aqui.
- E não te aborrece, Krato?
- Bom... Confesso que às vezes me sinto um pouco só... Hein, Ami, não teria uma
passagem para o planeta de “Betro”? Por lá deve haver algumas lindas velhinhas...
- Mas se não gosta da notoriedade – riu – não irá ser fácil... Um extraterrestre na
Terra...
- E para que vão saber que sou de outro planeta? Não digo nada e assunto
encerrado.
- Com essas orelhas, esses olhos tão violeta e esse cabelo meio rosado?...
Pensariam que seria qualquer coisa, menos terrestre, as pessoas correriam apavoradas
ao ver-te... – disse rindo.
- A menos que mude o aspecto físico... – disse Ami deixando-nos muito
intrigados. Seis olhos fixaram-se seriamente no menino de branco.
- Hein, não me olhem assim... Pois não matei ninguém!... Quero dizer que nossa
tecnologia permite efetuar certas mudanças nas formas externas de qualquer
organismo vivente, mas isso não implica que de verdade iremos a...
- Engorda-me as pernas! (Vinka).
- Aumenta-me a estatura! (Eu).
- Apaga-me as rugas! (Krato).
Cada um de nós expressou com veemência seu pedido ao compreender as
maravilhosas possibilidades que estavam ao alcance de Ami, que como sempre,
morria de rir.
- Deixem de tontices. Isso é um assunto muito delicado e não está ao serviço de
lisonja de vaidades.
- Senão ao serviço de que? – perguntei.
- Hum... Não devia haver mencionado o tema... Bem. As vezes é necessário que
alguém, nascido em um mundo evolucionado, preste um serviço em um planeta não
evolucionado.
Vinka extraiu rápidas conclusões.
- Então, ainda que eu não haja nascido em um mundo evolucionado, você poderia
mudar minha aparência para que eu pudesse viver na Terra. Poderia arredondar
minhas orelhas e...
- Nem em sonhos, me encantam como são – expressei alarmado.
- E poderia apagar minhas rugas, deixar minha pele como a de “Betro”...
Fantástico! Vamos de imediato a teu carro voador a efetuar uma cirurgia estética...
Isto... Não dói?...
- Já disse que essa tecnologia não é para alimentar vaidades, senão para assuntos
de verdadeira importância.
- E não lhe parece importante que uma pessoa se veja mais jovem, Ami?
- Não, Krato. O que me parece importante é que cada qual expresse por fora o que
realmente é em seu interior. O que é autêntico, sempre é belo, inclusive as rugas.
Krato encontrou ali uma boa ocasião para sair com outra de suas brincadeiras:
- Já sei, jovem maravilha, e as minhas me fazem parecer demasiado bom moço,
minhas admiradoras não me deixam viver em paz... Justamente por isso não quis ser
tão atrativo e ter uma feia cara esticaaaada... ho, ho, ho!
- Repito que nossa ciência não está ao serviço de vaidades.
- Vocês dizem que meu pergaminho tem ajudado a muita gente... Isto não me faz
merecer uns quatrocentos aninhos menos? – perguntou o ermitão, o que me fez
recordar que em Kia os anos são vinte vezes mais curtos que na Terra, assim que
calculei que ele devia ter uns mil quatrocentos anos Kianos de idade, ou seja, setenta
anos terrestres. Porém, mais adiante soube que era mais jovem.
Ami não se moveu, permanecia sério olhando para outro lado, de braços
cruzados.
- Trezentos?... Deixei o tabaco... além disso, não tenho dito más palavras nestes
dias, não tenho dito nem sequer “guakaka”...OH, PERDÃO!... Bom, duzentos e
cinqüenta então?...
- O que nasce do amor não é objeto de transações – disse Ami, sempre sem olharnos.
- Duzentos? O pergaminho, e o pergaminho... – insistia Krato estupidamente,
coisa que me fez sentir vergonha de outras pessoas.
- Para uma alma grande, o pagamento a um grande serviço consiste simplesmente
em haver tido a graça de realizá-lo. O serviço não é um favor, senão um privilégio.
- Dois dias? Hoje lavei as orelhas e rezei... – disse Krato com uma voz muito
cômica, então compreendemos que havia estado brincando e estalamos em risadas.
Logo Vinka insistiu:
- E agora é sério, Ami. Poderia modificar um pouco minha aparência para eu ir
viver na Terra?
- Está bem, está bem. Sim, posso, mas não tenha muitas ilusões, lembra de teu tio
Goro...
- Poderiam contar-me essa história? – disse Krato. Então Vinka começou a
relatar-lhe nossos problemas. O velho se animou quando conheceu o caso.
- Eu irei falar com seu tio e o convencerei, e se não aceitar encontrará com estes
duros punhos... – golpeou a palma de uma mão. Aquilo não impressionava a
ninguém.
- Meu tio é um terri bastante grandão...
- Teu tio é um terri?... Hum... Ah... O convenceremos pelo bem. Sempre há que
buscar o caminho da paz e da compreensão, crianças. Ho, ho, ho!
Ali me ocorreu uma idéia encorajadora:
- Ami, é possível que Goro se transforme em swama?
- Isso seria bom, mas segundo o estudo que fiz, está muito longe do nível de
evolução necessário para começar a transformar-se. Assim que esqueçam essa bela
possibilidade.
Ao escutar aquilo, Krato fingiu estar vaidoso:
- Não é fácil para qualquer terri chegar a estas primorosas alturas espirituais... ho,
ho, ho!
- Tens algum plano para convencê-lo, Ami, não poderia hipnotizá-lo? – perguntou
Vinka.
- Nem em sonhos. É um grave erro ante as Autoridades Galácticas utilizar o
hipnotismo para manipular uma pessoa. Não se deve violar a liberdade de escolha de
cada qual por nenhum motivo.
- Mas hipnotizaste uns policiais em nossa primeira viagem...
Começou a rir ante minha confusão.
- Isso foi um jogo, Pedro, não havia nenhum dano ali para eles. Tampouco se trata
de “extremismo mental”, não há que tomar tudo como tão terrível.
- E depois me hipnotizou para que eu não visse o coração alado sobre a rocha...
- Para dar-lhe uma agradável surpresa imediatamente depois... – disse sorrindo
alegre.
- Tá certo, porém mais tarde hipnotizaste um terri para que não nos visse...
- Para proteger vocês, não havia nenhum mal nisso. Dano se faz quando se
hipnotiza ou sugestiona a alguém para que faça ou deseje algo que em realidade não
quer fazer ou não necessita, como o caso da publicidade, onde manipulam as mentes
de multidões para que comecem a desejar o que eles querem vender... Não têm idéia
do horror em que esta se metendo, ante as leis universais, aqueles que planejam certas
estratégias publicitárias... E depois, o de sempre: “Porque Deus me castiga tanto? Eu
que nada de mal tenho feito”...
- Que quer dizer, menino das estrelas?
- Que a Lei Fundamental do Universo é o Amor. Quando se viola, ai, e se afeta a
muitos, ai, ai, ai... Porque tudo o que fazemos retorna à nós mesmos. Se esses
publicitários usarem seus conhecimentos e talentos para o melhoramento da
humanidade, para ajudar a evolução das consciências, receberiam maravilhas em
troca, pela mesma “lei do bumerang”.
- Lei do bumerang? – perguntamos os três.
- Causa e efeito, ação e reação, são mais ou menos o mesmo. Se fizer um grande
bem, voltará a ti um grande bem, se fazes um grande mal, pode esperar um dano para
ti mesmo da mesma “cor” de que fizeste. Essa lei funciona em todas as ordens da
existência.
Krato entusiasmou-se.
- Ou seja, que não era brincadeira o do meu pergaminho. Isso quer dizer que
agora posso esperar algo agradável em troca...
- Sim pode, a lei se cumpre matematicamente, mas não a tomes com vaidade.
- Mas não me tem sucedido nada bom ultimamente.
- Que mal agradecido, dizer isso justo quando acabam de terminar seus pesares...
Disse Ami olhando-o com certa repreensão.
- Guak! Isso, sim, é certo...
- Poderia haver passado o resto de sua vida ignorando que já não haveria razão
para ocultar-se, mas “algo” fez que eu viesse vê-lo...
- Creio que tens razão, menino protônico, mas...
- Mas o que?
- Bom, já sabe que me sinto só...
- Agora pode voltar para a cidade, Krato.
- Um velho como eu? Não saberia o que fazer, como sobreviver. Aliás, não
conheço ninguém ali, não sei nada do mundo moderno, seria um estorvo. Por outro
lado, e isto é o principal, as únicas pessoas que amo são você e estas duas crianças.
Apeguei-me muito, por isso inventava que viviam comigo. Creio que já não poderia
suportar outra separação.
Vinka e eu abraçamos emocionados ao querido velho.
- Outro drama mais... – disse Ami sorrindo.
- Não poderíamos viver os três unidos de uma boa vez? – perguntei.
Contrariamente ao que pensava, Ami não se pôs a rir, olhou-me sério e perguntou:
- É esse realmente teu desejo, Pedro?
- Tu sabes que sim, me partiria a alma deixar Vinka novamente, e recordar Krato
falando sozinho neste abandono... Não, não suportaria. Sim, esse é meu desejo, Ami.
- Então peça, ou melhor, decida que isso se fará realidade, e logo tenha fá em que
se fará realidade, Pedro. Se realmente pensa que isso é possível e que se lhe
concederá, então se te concederá, mas se deixa que a dúvida se apodere de ti... Direilhe
algo mais: os bons e belos desejos provem da parte mais elevada de teu interior,
da parte de Deus que abita em ti. E se ele põe um desejo em ti, é porque tem a
capacidade para realizá-lo. Mas para lográ-lo necessita de tua fé, de tua certeza e
segurança.
- Então estou seguro de que nós iremos os três para a Terra e viveremos juntos
para sempre – disse com grande entusiasmo desta vez.
- Eu também – disseram felizes Vinka e Krato.
- Bem, amigos, assim é que se fala. Agora vamos convencer Goro – expressou
Ami alegremente.
- Posso acompanhá-los? – perguntou Krato.
- Sim, Ami, que venha conosco! – exclamamos Vinka e eu.
- Não tem nenhum problema. Pode vir, Krato.
- Vivaaa! Ho, ho, ho!
- Tem algum plano, Ami?
- Nenhum, mas nosso desejo se fará realidade. Verdade?
- Verdade!
Ami disse que partiríamos em uma viajem curta para a cidade de Vinka. Aquilo
significava ir para outro continente na realidade, mas tendo em conta a velocidade
daquele veículo espacial, tratava-se de uma viajem “curta”.
Krato estava feliz em sua primeira travessia “óvni”. Não queria perder nenhum
detalhe do vôo, pregando seu nariz contra o cristal da janela.
- Ho, ho, ho! Isto é espetacular!... Mas... Não tem perigo? Eu peso bastante e este
aparato é uma casca de “topa”...
Compreendi que essa palavra significava algo assim como noz.
- Tem razão, Krato. Esta nave é muito levianinha. Acontece que utilizamos
materiais ultraleves, mas não há problemas, este veículo pode levantar o peso que
seja, porque aqui dentro fica anulada a gravidade exterior, e se nos mantemos
pegados ao chão neste momento, é porque aqui dentro utilizamos gravidade artificial,
que se pode modificar, olhem – disse, manipulando uns comandos.
De repente ficamos todos flutuando no ar. Havíamos perdido nosso peso, mas
Ami continuava em seu lugar, agarrado ao assento.
- Isto é como nadar no ar! Ho, ho, ho!
Krato se impulsionava com os pés contra uma parede e atravessava todo o
aposento flutuando no ar. Vinka e eu começamos a imitá-lo. Ela, muito rápido
começou a fazer piruetas como as que tenho visto em danças sub aquáticas pela
televisão. Estava fascinada inventando movimentos artísticos no ar.
Ami tocou um botão enquanto ria e todos nós caímos novamente ao chão.
- Hein, creio que me parti o pescoço! Vai ter que pagar-me danos, prejuízos e
hospital. Irá castigar-te a lei do bumerang, ho, ho, ho!
- Não sou tão descuidado como para por de repente toda gravidade artificial que
trazemos. A propósito, sabiam que o descuido é uma forma de maldade?
Não me pareceu muito evidente aquilo.
- Se o piloto de um avião cheio de passageiros se descuidasse... ou o mecânico...
– disse.
Compreendi de imediato.
- O descuido pode ocasionar tanto dano como a maldade intencional, por isso,
tratem de ter sempre todas as suas coisas em ordem, não sejam distraídos. Se têm má
memória, anotem tudo, façam rotinas para assegurarem que tudo está sob controle.
Sejam atentos ao cruzar as ruas, em fim, não descuidem de nada porque o Universo
não pode ajudar aos descuidados.
- Como é isso, Ami?
- Se esquece de fecha com chave e vive em um bairro cheio de ladrões...
- Claro...
- O descuido pode fazer perder grandes empresas, amigos, etc.
- Então não se descuides com esses comandos, menino sideral.
- Não se pré-ocupe, Krato, isto pode controlar-se sozinho, por computador, está
programado para não cair nem chocar.
- Mas sempre vale a pena deixar um olho aberto. Não? Não tem que ser
descuidado porque é pecado. Ho, ho, ho!
Um par de minutos mais tarde, estávamos invisíveis sobre a cidade de Vinka,
sobre sua casa concretamente. Olhamos para dentro através da tela de um monitor.
Um terri bastante feio, como todos, encontrava-se sentado em um sofá lendo o jornal.
Porém, este anim... Este senhor vestia-se muito formalmente, impecável. Só na
cabeça e nas mãos via-se seu longo pêlo cor verde, muito bem escovado e brilhoso,
igual às garras de seus dedos. Uma senhora swama tricotava frente a ele.
- Meus tios! Hein, tios, aqui estou!
- Não podem escutá-la, Vinka, por sorte. Se soubessem que estás a bordo de uma
nave espacial...
- E irão ter que saber, não tem mais remédio – disse desanimado. Ami estava de
acordo.
- Vamos planejar algo para convencer Goro, coisa que levar alguns dias...
Semanas talvez.
- Tanto!
- Ou inclusive mais, meses... Anos no pior dos casos.
Nossas bocas muito abertas assustaram Ami.
- Porém, não façam essas caras de horror... Desculpem-me. Havíamos tratado que
teríamos que ser otimistas para pensar e eu mesmo esqueci. Mas, tampouco sejamos
irreais, estamos ante uma pessoa de mente rígida como pedra, e coloquemo-nos um
pouco em seu lugar: não é fácil deixar partir para outro mundo a uma menina que está
sob nossa responsabilidade... Acompanhada de seres espaciais... Dão-se conta?
Sim, pensamos um pouco, nos demos conta, e o animo nos chegou ao chão.
- Mas tampouco percamos a fé. Em fim. Esta noite cada um de vocês dormirá em
sua casa. Amanhã passo para buscá-los de novo. Faremos o mesmo o tempo que for
necessário. E agora você irá procurar conversar com sua tia a sós. Vai preparando-a
pouco a pouco, não queira avançar muito em um só dia. Nós estaremos olhando pelo
monitor para ir colhendo dados de sua reação.
- Que fácil... Ficarão encantados quando souberem que quero ir com uma nave
espacial para outro mundo... Ao manicômio irão me enviar!
- Mas se tua tia vir um “óvni”... – disse Ami com um sorriso que infundia animo.
- Vai permitir que ela veja esta nave, Ami?
- Se for necessário, e se as Autoridades o permitirem, sim. Não hoje, claro...
A impaciência dominou Vinka:
- Hoje não? Para que esperar mais?
- Iremos pouco a pouco, Vinka. Não podemos precipitar nada.
- Creio que não haverá nenhum problema, Ami, não se preocupe agora. Há, há,
há! Minha tia Clorka pouco a pouco vem chegando a acreditar um pouco no que lhe
digo, já que é ela quem escreve meus livros. No princípio se fechava, mas agora está
mais disposta a crer.
- A acreditar que tudo o que escreve é verdade, Vinka? – perguntei.
- Não, tanto assim não, mas aceita que pode haver vida inteligente fora deste
mundo. Com ela será mais fácil, mas com meu tio...
- Talvez tenhamos sorte e tudo se resolva agora mesmo, talvez esta noite a maleta
de Vinka esteja em minha casa, nos sobra um quarto... – disse cheio de esperança.
- É bom ser otimista, Pedro, mas é mal ser um sonhador – disse Ami me
observando com simpatia.
- E qual é a diferença, onde está o limite, Ami? – quis saber.
- Bom, na realidade, tudo é possível...
- Tudo, tudo, tudo? – perguntou incrédula Vinka.
- Bom, exceto os absurdos e as aberrações, claro, como alguém que quisesse ser
um orador famoso e não tivesse língua... Ou pretendesse subir em uma nave como
esta com o coração cheio de ódios, ciúmes e invejas... Mas dentro do normal, tudo o
que se deseje de verdade pode se fazer realidade, sempre que se siga o processo
necessário.
- Explica-me melhor isso, menino estratosférico – disse Krato.
- Assim como uma semente de árvore precisa de certo processo que tem haver
com o tempo, com o alimento e cuidado para converter-se em árvore, assim mesmo
se deve ter em conta o processo que necessita todo projeto, sonho ou desejo. Tudo é
possível, mas tudo requer de um procedimento que necessita tempo e esforço.
- Como a fermentação do suco de muflos. Não é coisa de um dia para outro –
sustentou Krato.
Eu estava mais interessado na possibilidade de que essa mesma noite Vinka
chegasse a viver ao meu lado. Ami captou o que eu pensava e retomou ao tema.
- O pessimista se equivoca, porque tudo é possível, mas o sonhador também se
equivoca, porque não sabe distinguir entre absurdo e possibilidade real, ou porque
não leva em conta o processo nem o tempo necessário para realizar ou obter algo. Já
lhe disse que estudei a fundo a mente de Goro e o resultado foi definitivo:
IMPOSSÍVEL. Assim que estamos metidos em uma intenção que vai contra o que
afirma a lógica. Não será coisa de poucas horas, Pedrinho, mas tampouco pensemos
negativamente, devemos ter fé para que tudo saia bem, e tu deve cuidar-te de tua falta
de paciência. Seja como seja, está noite você irá sozinho para casa, tua avozinha te
espera.
- Tem uma avó, “Betro”? – perguntou muito interessado o velho.
- Sim.
- Mmm... Separada... Viúva?
- Ah, não! Minha avozinha é uma santa, Krato, mas meu avô... – menti, porque
ela é viúva.
- Procura não mentir, Pedro – me delatou Ami.
- Ahhh, não tem nenhum avô... Pode chamar-me “avô” então, “Betro”.
Eles começaram a rir, mas para mim não teve graça aquilo.
Ami colou a nave sobre os fundos do quintal da casa de Vinka, que estava cheio
de matos altos, ali ia descer. Disse-lhe que no dia seguinte nos esperasse cedo nesse
mesmo lugar.
Despedimos-nos um pouco desconsoladamente, como se ela se fosse à guerra, o
que fez Ami rir como sempre, sem embargo, desta vez o menino de branco estava
equivocado e nós certos: Vinka tinha uma feia “guerra” em seu futuro imediato.
Nosso reencontro não ia ser tão fácil...
Desceu da nave e encaminhou-se para o interior de sua casa. Nós olhamos
atentamente por um monitor.
- Olá, tios – disse ao ingressar, saudando com um beijo a bochecha de cada um
deles.
- Como pode beijar esse monstro! – exclamei.
- Silêncio, escutemos – ordenou Ami.
- Tia Clorka... Acredita nos extrakianos?
Ami se sentiu aborrecido.
- Não faz nenhuma introdução!... Que menina mais impulsiva! Aliás, disse-lhe
que falasse com ela a sós... Que descuidada!
Não, não acredito – disse um pouco alarmada a tia, fazendo-lhe sinal para que se
calasse, apontando para Goro, submergido atrás do jornal. Mas este escutou aquilo e
disse:
- E para com esta obsessão... Hum. Esta menina não vai ser uma pessoa normal
quando crescer. Oxalá não me faça passar vergonhas...
- E se sou tão louca, tio, lhe importaria muito se eu fosse viver longe daqui?
O terri pareceu dar um salto, atirou o jornal longe, olhou-a fixo e em forma
ameaçadora disse:
- QUE... ME... ESTÁ... QUERENDO... DIZER?!
A pobrezinha de Vinka ficou pálida, mas encontrou uma forma para aliviar
aquilo, para dar-lhe a volta e colocá-lo a seu favor.
- Como nesta casa consideram que sou uma louca... que sou uma vergonha... é
melhor que eu vá para sempre – disse, fazendo como se estivesse a ponto de chorar.
Isso comoveu Goro, pondo-se de pé, foi em sua direção e começou a fazer-lhe
carinho em sua cabeça.
- Desculpa-me, Vinkita, tens razão, tenho sido um pouco duro contigo... Vou ter
mais cuidado para que nunca mais lhe passe a idéia de abandonar este lugar...
- Maldição, foi para pior! – exclamei aborrecido.
- Não vai ser nada fácil, nada fácil – declarou Krato acariciando a barba.
- Ânimo amigos, ânimo – nos encorajava Ami.
Vinka olhou para cima, sabendo que nós a observávamos, e fez uma cara como se
perguntasse e agora, o que faço? O que nos fez rir, apesar de nossos nervos. Logo lhe
ocorreu uma estratégia nova e disse:
- Ainda que eu acredite na vida extrakiana?...
“Bom, Vinka” pensei.
Goro tratou de fazê-la lembrar racionalmente das boas maneiras.
- Filha... Vamos... Essa obsessão tua por esse assunto...
Ela ficou de pé e enfrentou-lhe desafiante enquanto dizia:
- EU-TENHO-VISTO-NAVES!
- Isso é alucinação, sonhos, fenômenos meteorológicos, filha.
- AH, SIM? VAMOS VER SE A NAVE QUE IRÁ APARECER NESTE
MOMENTO É UMA ALUCINAÇÃO, VAMOS, VAMOS AO QUINTAL E VEJA
TÚ MESMO SE ISSO É ALUCINAÇÃO! – exclamou, saindo pra fora.
Ami puxava os cabelos, alterado.
- Está agindo mal, está agindo mal, assim não!... A culpa é minha. Viram? Não fui
cuidadoso o suficiente ao dar-lhe as instruções. Que desastre...
- É perfeito, Ami, agora fazemos a nave visível, e pronto – disse.
- O que?! Se fizermos isto, Goro morre ou fica louco, e eu não posso permitir.
Aliás, tampouco posso fazer visível a nave quando eu quiser. Para isso tenho que
pedir autorização. E se as coisas estão mal, não me concedem. Vinka tinha que ter ido
pouco a pouco e de forma reservada, como eu disse...
Como conheço minha alma gêmea, expliquei:
- Ela fez de propósito, Ami, foi sua impaciência.
- Claro! Que tonto sou, e que rebelde é Vinka... Mas a culpa é minha. Me custa
lembrar que estou ante seres de tão pouco autocontrole... Escutemos.
Goro olhou com muita preocupação para Clorka e disse:
- Nossa sobrinha está muito mal. Há que levá-la ao psiquiatra. Isto é um ataque de
loucura...
- VENHAM, VENHAM PARA O QUINTAL PARA QUE VEJAM VOÇES
MESMOS! EU TENHO CONTATO COM SERES DO ESPAÇO, E SE EU QUERO,
APARECE UMA NAVE. VENHAM VER PARA QUE DIGAM SE ESTOU LOUCA
OU NÃO, VENHAM!
- Pobrezinha... Sniff – dizia Clorka ao escutar aquilo, levando um lenço aos olhos
e nariz.
A verdade é que minha pobre amada parecia uma louca. Deu-me muita pena vê-la
assim, e também me senti algo culpável ao lembrar que fazia aquilo por nosso
carinho. Os tios estavam tão seguros da Loucura de Vinka que nem lhes passou pela
mente a idéia de sair ao quintal para dar uma olhada.
- VEM, AMI, APARECE DE UMA VEZ, MOSTRA-LHES TUA NAVE
ESPACIAL A ESTES INCRÉDULOS! – dizia ela fora de si, olhando para o céu sem
poder ver-nos.
Ami pegou um microfone que eu já conhecia, um que era capaz de lançar a voz
só para um ponto determinado.
- “Vinka” – disse. Sua voz soou próximo do ouvido de minha companheira.
- QUE?! AMI ESTÁ INVISÍVEL FALANDO EM MEU OUVIDO...
VENHAM...
- Pobrezinha... Sniff...
- Que vergonha, vexame. A educaste mal, Clorka, é uma perdida – dizia o terri.
- Eu não tenho culpa, Goro. Minha irmã morreu de repente em um bombardeio
quando eu era quase uma menina, e fiquei a cargo de uma criatura, em plena guerra, e
ninguém ensinou-me a criar crianças...
- “Acalma-te, Vinka, acalma-te” – lhe recomendava Ami.
- ONDE ESTÁ, AMI?
- “Fala mais baixo, Vinka. Pode ficar calma? Estou lhe falando aqui da nave por
um microfone direcional. Goro não deve ver a nave, todavia”.
- Oh, ta certo, só minha tia... TIA CLORKA, VEM IMEDIATAMENTE!
-Oh, não – exclamou Ami – lhe pedi que falasse com ela primeiro, que lhe
prepara-se. Não posso produzir um avistamento tão repentino para ela.
- Vou ver o que passa... Pobre menina... Estes livros!... – disse Clorka.
- Sim, esses livros... Traga-a de volta pra dentro enquanto chamo um psiquiatra
amigo. Tente calá-la para que os vizinhos não se dêem conta.
Clorka saiu no quintal e abraçou Vinka, que só olhava para cima.
- Vamos, Ami, faz visível a nave, aproveita – lhe pedi.
Ele pegou os controles e disse:
- Primeiro tenho que consultar. Tenho que calcular se Clorka pode suportar essa
visão ou não, esperem.
Em outra tela apareceu muito grande a cabeça da tia, logo o interior dela. Viam-se
muito flashes como de energia de muitas cores, mas Ami não olhava essa tela, senão
outra, na qual iam surgindo uns sinais estranhos. Escutou-se um bip.
- Magnífico. Está no limite, mas tolerará sem sofrer danos. Temos autorização.
Bem, agora vamos dar-lhe um “contato próximo” na pobre tia Clorka.
A nave se fez visível, estávamos em uma altura muito baixa. Começamos a fazer
círculos em torno delas duas.
- OLHA TIA, ALÁ!
Vinka estava feliz. A tia não lhe fazia caso, mas de repente uma luz deslumbrante
iluminou o quintal e ela não teve mais remédio que olhar para cima, para ficar com a
vista fixa e a boca aberta...
- Suficiente – disse Ami, e regressamos à invisibilidade. Havíamos dado à Clorka
um avistamento de uns quinze segundos.
- Não convêm atrair a atenção de mais da conta – explicou.
- Viste tia? Essa era a nave de meu amigo.
Goro havia observado um grande brilho de luz proveniente do lado de fora da
casa quando ia ao telefone e saiu para o quintal. Encontrou sua mulher com a boca
aberta e os olhos muito grandes olhando ainda para cima. Ele também o fez, mas já
não podia ver nada mais que o céu.
Eu estava feliz, ainda que a tia Clorka estivesse a ponto de desmaiar. Goro se deu
conta e levou para dentro aos dois. Parecia muito preocupado.
- Que foi, Clorka, que viste? – lhe perguntava, enquanto a ajudava sentar-se em
um sofá.
- Viu a nave de meu amigo, naturalmente.
- É... é.... verdade.... Havia uma... nave espacial... É verdade, Vinka não está
louca. Eu a vi, eu vi, Goro. EU VI!...
- Alu... alucinações, Clor... Mas eu também vi uma grande luz lá fora... Que é
isto? Entretanto, não vi nada no céu...
- Não, tio, tu não pode ver porque não está preparado, por isso, meu amigo a fez
invisível quando tu chegaste. Foi para proteger-te, para que não fique louco ou morra
devido a impressão.
Goro teve que sentar-se também. Fechou os olhos, pôs as mãos sobre a cabeça e
começou a pensar.
- Naves espaciais... invisíveis... Tem que ter uma explicação lógica... Está segura
de que viste algo, Clorka?
- Sim Goro, e não foi nenhuma alucinação.
- Talvez foi um aerólito, uma estrela fugaz...
- De metal prateado?... – disse Clorka.
- Então pode ser um avião...
- Redondo?...
- Um planeta então, ema estrela...
- Fazendo círculos sobre a casa, com luzes coloridas e com um símbolo
debaixo?...
- Um símbolo? Como era esse símbolo?
- Igual ao que aparece em meus livros, tio Goro, o coração alado. Tudo é verdade,
eu fui realmente a outros mundos na nave de Ami.
Krato, Ami e eu estávamos felizes escutando aquela conversa.
- E mais, tio Goro, eles estão olhando-nos por um tela neste momento, estão
escutando toda nossa conversa.
- Eles? Falaste só de um, do famoso Ami esse de teus livros.
- Sim, mas também está Krato, que é o primeiro terri transformado em swama dos
tempos modernos, ainda que ninguém sabia porque foi esconder-se nas montanhas do
Utna. Ele é de lá. E também está Pedrinho na nave, que é de um planeta muito
parecido com este. Ele é minha alma gêmea... Ambos somos missionários em nossos
mundos, somos servidores do Deus Amor...
O terri arrancava os verdes cabelos da cabeça ao escutar assuntos tão irracionais:
naves espaciais, seres de outros mundos, almas gêmeas, missionários, Deus Amor...
- Por favor, Vinkita, diga-me que tudo isto é fantasia, não pode ser mais que isto.
A realidade não é tão extravagante como um conto infantil. Diga, por favor. Se não
me disser creio que minha cabeça estalará... Este Universo não é assim como você
pinta em teus livros. A fantasia sim, a realidade não. E eu não posso estar equivocado
tantos anos, eu e os cientistas, gente séria e razoável... Todos equivocados?
- “Sim, Goro, todos equivocados durante milênios” – disse Ami pelo microfone,
fazendo o terri dar um salto.
- QUEM DISSE ISTO!
- Ami, tio Goro. Ele tem um microfone em sua nave, com ele pode fazer escutar
sua voz onde queira.
“Sem mencionar que ele pode falar qualquer idioma”, pensei.
- Tenho medo... podem ser espíritos... seres maléficos... – dizia Clorka com voz
frágil.
- Não deve temer, tia. Ami é muito bom, e é de carne e osso. É realmente como
disse nos livros.
Goro pareceu haver chegado a uma conclusão.
Quem sabe... Bom, é evidente então que aqui há uma tecnologia desconhecida,
mas não de outro mundo, claro, isso é ridículo... Ou pode ser... ainda é uma loucura
pensá-lo... Não sei... O que não é evidente é que tenham boas intenções... Talvez
estejam lhe utilizando... Creio que vou chamar a PP. Isto pode representar uma
ameaça para Kia.
- Que é PP, Ami? – lhe perguntei, mas Krato respondeu:
- Brrr, a Polícia Política.
- Tem razão: brrr – disse.
- Tem gente que escolhe cada coisa linda como trabalho... – opinou Krato.
- O trabalho permanente de cada pessoa é como uma fotografia que revela a
qualidade de sua alma – explicou Ami – Mas não descriminem – completou – já
verão que até na PP há gente boa.
- O amor... uma ameaça para Kia? – lhe perguntou Vinka com certa ironia a seu
tio.
- Há chugs disfarçados de tukos... – disse com desconfiança Goro.
- Isso quer dizer algo assim como “lobos disfarçados de ovelhas” – expressei.
Ami se pôs a rir.
- Assim é, Pedro, para que veja que a desconfiança é universal e que sempre
recorre as mesmas imagens. Vêem como é a mentalidade terri? Quando por fim é
capaz de aceitar uma realidade superior, deve necessariamente rebaixá-la ao seu
próprio nível, aceita-a, sim, mas sempre que seja horrível como seu panorama mental.
Goro meio que aceitou por fim que há vida em outros mundos, mas claro, tinha que
tratar-se de seres perversos... Se soubesse sobre certas dimensões maravilhosas da
existência, sobre certas belas almas do Cosmos...
- E também há tukos não disfarçados, tio, também existem.
- Que lindo seria... mas não... não pode ser. NÃO PODE SER!
- “Não claro” – disse Ami pelo microfone – “tudo no Universo tem que ser
semelhante e espantoso que em Kia... NÃO PODEM existir realidades nem seres
superiores, NATURALMENTE. Kia é o máximo desde quando existe entre os milhões
e milhões de estrelas e galáxias. Kia é o ponto MAIS ALTO da evolução da vida
universal. Verdade Goro?”...
Vinka, eu e Krato rimos, e Goro vacilou um pouco ao escutar a confusão que fez
Ami em seus pensamentos.
- Não sei, eu não falo com quem não se atreve a dar a cara... se é que tem cara...
Que eu sei. Tenho que pensar. Me dói a cabeça. Vamos nos deitar.
- Mas se ainda não se pôs o sol, tio.
- Está bem. Vocês fiquem aqui, eu vou para a cama ler teus livros para informarme
melhor.
- Ainda não os leu, tio?
- Eu leio literatura séria, não coisas de menin... Bem, até amanhã, e diga aos seus
“amigos” que deixem de espiar por esta câmera oculta, que respeitem a vida privada.
Vinka se pôs a rir. Olhou para cima e disse:
- Escutaram isso, meninos?
Ami pegou novamente o microfone.
- “Até amanhã, e trate de aceitar um pouco que não é tão horrível como você
pensa, amigo Goro, e não comente estas coisas com absolutamente ninguém, porque
tudo poderia complicar-se. De acordo?”
- Está bem – disse Goro entre os dentes, fechando-se em seu quarto batendo a
porta.
Ami desligou a tela.
- Tudo saiu melhor do que previsto, avançamos muito em uma só sessão, mas não
se alegrem muito ainda. A mente terri sofre a influencia do Tirano do Mundo e...
- Como é isso, menino galáctico? – perguntou Krato.
Ami lhe explicou todo o assunto do Tirano e mostrou-lhe a tela enquanto eu
olhava para outro lado.
- Brrr, obrigado, é o suficiente para mim. Vejamos o outro, é melhor.
Apareceu o jovem com a espada de ouro, mas agora tinha o cabelo rosado, olhos
violeta e orelhas de swama...
- ESSE sim que é um campeão! Despedaçar-lhe-á a espadaços! Ho, ho, ho.
- Os arquétipos mudam de acordo com o mundo em que o imaginam – explicou
Ami.
Eu perguntei se a mente terri recebe também a influência deste jovem.
- Na medida que se aceita essa influência se deixa de ser terri, pouco a pouco.
Porém, mais tarde ou mais cedo, todos os terris deixam de sê-lo, sempre ganha o
Amor, e , sabem porque?
- Não.
- Porque o Amor é Deus.
Krato se pôs sério e disse:
- Tem razão, Ami. Eu que sei, eu o vivi, foi então quando escrevi esse pergaminho
e deixei de ser terri.
- Tiveste essa iluminadora experiência sendo terri? – perguntou Ami.
- Tão terri como Goro.
- Vêem? Deus não deprecia à suas ovelhas perdidas – expressou Ami.
- A suas o que? – perguntou o montanhês.
- A seus tukos perdidos.
- Ah, eu tampouco, Ami.
- Não deprecias a ninguém, Krato?
- A nenhum tuko que ande perdido por minhas montanhas, assim que quando
agarro um, mmm, uma delícia temperada em molho picante. Ho, ho, ho! A propósito,
tenho fome. Voltemos para casa.
Ami acessou os controles enquanto ríamos.
- Eu pensava em levar-lhe para conhecer a Terra, Krato, para ver se lhe interessa
realmente viver ali.
- Fantástico! Envia este artefato direto para a Terra então, menino eletrônico.
Mas... teria que ser rápido... A menos que tenha aqui dentro um... Eu não sei se vocês
usam essas coisas...
- Um o que, Krato? – perguntei.
- Um banheiro – disse rindo Ami, porque captou o que o velho pensava.
Aquilo provocou minha curiosidade.
- É sério, nunca soube se... Você usa banheiro, Ami?
- Não pense que vou fazer por aí, ao lado de uma árvore – disse entre risos.
- Isso quer dizer que você também...
- E o que você queria? Ainda não sei nutrir-me só da energia do Amor, do sol e do
oxigênio, como fazem em outros níveis de existência. Lá atrás tem um banheiro,
Krato, segunda porta à esquerda.
- Vooou – disse o swama enquanto corria para o banheiro. Instantes depois voltou
dizendo:
- Ehhh, isso não é um banheiro, não tem nada ali, é um quarto vazio...
- Oh, tem razão. Esqueci de explicar-lhe. Só tem que entrar ali e fechar a porta.
- Montanhês sou, porém não sujo, não vou deixar este lugar molhado... Nem
sequer um miserável deságüe tem ali!...
Ami ria a não poder mais.
- Não, Krato, não. Tem que entrar e não fazer nada...
- Porém, se o que eu quero é fazer... Para que vou entrar então? Para não fazer
nada?
Ami tinha que esforçar-se para deixar de rir e poder explicar-lhe.
- Tu entra nesse quarto, fecha a porta e não faça nada. Depois volta aqui. Então
verá que já não terá vontade.
- Ah, é um lugar para que as vontades se passem... Mas alguma vez terá que
“fazer”... Não entendo nada, e já não agüento. Vou.
Logo escutamos sua voz naquele quarto.
- Ahhh, que alívio! Ehhh, isto é fabuloso, meninos!
- Como é isso, Ami?
- Nada, entra ali e se ativam uns raios que desmaterializam as substancias
indesejáveis de sua pele e do interior de teu corpo. Este modelo de “banho” é mais
avançado que o de minha nave anterior. Esses raios são capazes de reconhecer que
tipo de germens são nocivos ou estranhos em um organismo ou em um ecossistema
determinado, eliminando-os ou desativando-os,conforme o caso, e também serve
como câmara de desinfecção, sendo utilizada antes que alguém desça em um lugar
onde seus germens poderiam ser prejudiciais para o ambiente ecológico.
Eu lembrei que em minhas viagens anteriores não pude descer nos mundos
evolucionados, só olhá-los através das janelas ou monitores, porque meus germens
poderiam causar problemas.
- Isso quer dizer que com esta nave eu poderia sim, descer em um mundo
evolucionado?
- Correto, graças à essa câmara de desinfecção, que também serve como “banho”,
sendo esse seu uso mais habitual.
- Isso é incrível! Ou seja, vocês não usam rolos de....
- Puaf!... Nada. Isso é pré-história para nós, por sorte...
- E para banhar-te?...
- Aí mesmo. Desmaterializa-se o indesejável do corpo, cabelos e roupas.
- Se banham vestidos!
- Claro.
- Ou seja, vocês jamais se desvestem...
Ami ria.
- Pare com extremismo mental outra vez... Há que mudar-se de roupa de vez em
quando, ainda que esteja limpa, e também é lindo tomar o sol na pele, caminhar
descalço pela grama, tirar a roupa para nadar na água...
- E tiram a roupa para?...
- Também – respondeu, percebendo que eu queria saber se eles fazem amor.
- Sabichão! – lhe disse com malícia, beliscando-lhe suavemente a bochecha.
Ele entre risos explicou-me:
- Esse é um assunto que nos ensinam desde muito meninos, e o tomamos com
muito respeito e sem malícia, Pedro. Para nós, a sexualidade é uma força sagrada,
uma força que, tirando a geração da vida, permite uma forma superior de
comunicação, regozijo, crescimento interior e criatividade entre as pessoas que se
amam, por isso mesmo respeitamos muito essa força. Consideramos o mais elevado
presente de amor que podemos oferecer ao ser amado, e também por isso não
manchamos ou o degradamos.
- Me sinto como novo! Entrei ali e me passou tudo... Minha roupa ficou
cheirando a recém lavada, meu cabelo não está emaranhado... Isso é bruxaria, Ami!
- Isso é tecnologia, Krato, nada mais que isso.
Eu quis provar aquele invento. Era como o velho dizia: um prodígio.
- Com um desses em casa, eu me banharia mais vezes. Não perdemos tempo
algum, não ficamos gelados, não escorrega, não deixa o banheiro molhado, não gasta
toalhas... Eu quero que a Terra seja como Ofir! – exclamei, brincando e também à
sério.
- Isso tem que se ganhar Pedro, fazendo com que reine o Amor, dentro e fora de
ti, para que se evapore as sombras da dor e da mentira, e assim o Tirano se debilite e
não tenha onde conseguir servidores. Então chegaremos nós, porque só então
mereceriam nossa ajuda total, aberta e global... Teremos chegado à Terra, amigos.
- Este mundo teu é muito bonito, “Betro”.
- Porém, nós estamos destruindo-o, Krato.
- Semelhante a eles em Kia – disse o ex terri.
- “Eles”? – expressou Ami.
- Eles, os terris, eu não, eu nada de mal faço em minhas montanhas.
- Porém, ainda não fazes nada bom, não se lança em nada, como se o assunto não
fosse contigo. Se ninguém fizer nada bom, o reinado do desamor se estenderia por
milênios e milênios...
- Eu não posso fazer nada, Ami, não vou sair e matar terris. E se não se trata de
matar, senão de ensinar, já cumpri, já escrevi o pergaminho e agora tenho direito de
viver em paz. Ho, ho, ho!... Não tem algo comestível por aí? Sinto como se minhas
tripas estivessem vazias.
- É um velho esperto, gosta de mudar de assunto quando não lhe convêm. Isso é
trapaça, Krato.
- Que? É verdade que tenho as tripas vazias, menino sideral.
Continuava simulando.
- E também é verdade que nunca se deve deixar de trabalhar, de servir. Não basta
fazer algo de bom alguma vez e adeus, “a viver das rendas”... Quem está em
verdadeira sintonia com Deus não pode deixar nunca de trabalhar, de servir.
- Por que, Ami?
- Porque não pode deixar de amar... É por isso que nos mundos superiores
ninguém se “vangloria”, não existem as “folgas”, ninguém se esquiva do fardo em
seu trabalho, do seu serviço à comunidade.
- É sério?!
- Claro! Mas também é verdade que nossas autoridades se encarregam de que
todos trabalhemos naquilo para o qual temos mais talento, e isso é justamente o que
mais gostamos de fazer.
- Ah... Assim sim. Aqui na Terra não há tantas considerações, cada um se vira
como pode...
- E assim perdem o labor de tantos e tantos talentos... Há tantas coisas que
melhorar aqui... Para mim, não há melhores vocações para trabalhar, esse é meu
prêmio, isto que agora faço. Sei que pelo “bumerang” a lei de causa e efeito, estou
ganhando algo bom, além da satisfação que me brinda fazer o que faço, mas jamais
penso no que vou ganhar. Este é meu Paraíso e meu Céu: servir.
As palavras de Ami me deixaram um pouco demolido. Era certo que eu havia
escrito os livros, mas por outro lado gastei horas e horas no jogos de videogame, em
minha cidade e no balneário, e também em joguinhos em meu computador, ou
espiando na Internet, ou olhando TV por muito tempo, sem fazer nada proveitoso.
Ami começou a rir-se de meus pensamentos, aquilo me aliviou.
- Tampouco se trata disso! Não se auto-castigues. O desejo de servir é algo que
vai crescendo pouco a pouco. Eu fui como tu, tu serás como eu. Tudo deve ir
amadurecendo harmoniosamente. Se ainda não nasceu o desejo, o DESEJO de servir
em forma mais constante, não o faças, porque não se trata de servir por obrigação.
Nas coisas do Amor, nada pode ser obrigatório, senão livre, e se não é livre não
pertence ao Amor.
- E quando a pança está vazia tampouco há amor. Ho, ho, ho!
O velho tinha fome de verdade.
- Traga-lhe umas “nozes” para Krato, Pedrinho.
Ami referia-se a um alimento com sabor de noz, porém doce, que me fez provar
em nossa primeira viagem e que me encantou.
- Isto se come?
- Claro, prova uma.
- Deixa eu ver, mmm... Puaf! Isto é um asco. Parecem “topas” doces, não é
picante... Vamos deixar este menino em sua casa, talvez sua avó se compadeça de
meu estomago vazio...
- Vamos, mas não poderá descer. Não seria bom que por aqui vissem a um ser do
espaço como tu, Krato.
- Seres do espaço são vocês, eu não... Guak! Aqui sim, eu sou... Então deixemos
rápido a este menino e voltemos à Kia, menino satelitial. Em casa tenho um garábolo
em molho picante. Estou escutando, está chorando, está gemendo: “Vem, Krato, vem
a comer-me logo, por favor”. Ho, ho, ho!
Chegamos ao balneário. A noite estava cheia de estrelas.
- Se quiser, eu te acompanho para que me apresente a sua avozinha, “Betro” –
brincou o velho.
- Nem em sonhos, pode ser capaz que ela também vá parar em tua panela com
molho picante...
- Por quê? Tem a carne sensível? Ho, ho, ho!
- Espera-me no bosque amanhã cedo, Pedrinho – disse-me Ami quando eu estava
a pondo de abandonar a nave.
Aquela era a primeira vez que ia descer ali sem dor no coração. Esta vez não
haveria uma longa separação, nem de Vinka, nem de Ami e nem de Krato. Só seria
uma noite. Claro que o assunto não ia ser tão fácil, mas nesse momento eu, por sorte,
não o sabia.
Ami me fez descer nas rochas. Quando cheguei junto ao coração gravado na
rocha, olhei para o alto, mas não se via nada, exceto estrelas.
CONTINUA.......
OBS:AMELIUS. ATENÇÃO IRAMOS HUMANIDADE DA TERRA MEUS IRMAOS E IRMAS ESTELARES QUE CHEGARAM A LER O LIVRO DE AMI ATE O FIM. PERCEBAM AIMPORTANCIA DESTA HISTORIA REAL E DE SEU COMPROMISSO QUANDO A HUMANIDADE O NOSSO COMPROMISSO O MEU DE DIVULGAR . SE POSSUEM BLOG OU ALGUM SITE . COLEM COPIEM O LIVRO DE AMI. IMPRIMAM. LEIA PARA SEUS FILHOS E IRMAOS..ESTA E UMA SEMENTE MUITO IMPORTANTE A SER PLANTADA NA HUMANIDADE DA TERRA COM ESTE LINDO ATO NESTE LINDO LIVRO NESTA LINDA HISTORIA REAL.
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